Os fios da história de um assentamento "desaparecido"

Resumo

Próxima à cidade de Marília, na BR 153, em uma faixa de sete quilômetros, nota-se a existência de pequenos sítios munidos de amplas casas em alvenaria e outras benfeitorias (silos de armazenagem, poços artesianos com grandes reservatórios d'água, garagens, etc.), todas com a mesma arquitetura e muito bem acabadas. Nenhuma placa indica, mas nesta área se realizou o primeiro plano de assentamento de trabalhadores do projeto de Revisão Agrária, instituído pelo Governo de Carvalho Pinto, no ano de 1960. Quando iniciada a construção deste loteamento, em 1961, essa opulência arquitetônica era ainda mais contrastante com aquilo que se conhecia como a pequena propriedade rural no campo paulista e brasileiro. Mas, a idéia central do projeto de Revisão Agrária era mesmo marcar a diferença: decretar o fim do produtor caipira no "padrão jeca tatu", e criar o "farmer" no estilo americano. O Governo Carvalho Pinto dizia estar antecipando-se à grande demanda social por reforma agrária que agitava o país e convulsionava o nordeste. A Revisão Agrária iria coibir a permanência de terras improdutivas no estado de São Paulo, instituindo pesados impostos sobre elas. Paralelamente, facilitaria o acesso de lavradores a pequenas propriedades através de assentamentos em terras desapropriadas. As terras, munidas de toda infra-estrutura de produção moderna, seriam repassadas aos trabalhadores a preço de custo e pelas quais deveriam pagar em um prazo de 15 anos. Para os idealizadores da Revisão Agrária, esta seria uma forma de estimular a criação de uma classe média rural que, além de produzir frutas, legumes e cereais da cesta básica, consumiria produtos da indústria doméstica e exportaria a paz social. A Fazenda Santa Helena seria o primeiro passo em direção a todos estes objetivos.