Povo, revolução e Brasil por Dias Gomes (1962-1966)

Autores

  • Paulo Renato da Silva IFCH/UNICAMP

Resumo

Segundo Roberto Schwarz, o Brasil estava irreconhecivelmente inteligente no começo da década de sessenta. A vigência da democracia desde 1945, o desenvolvimento dos anos cinqüenta e a movimentação popular no início dos anos sessenta pelas reformas de base do presidente João Goulart demonstravam essa mudança e prenunciavam a esperança de dias melhores. O meio artístico e intelectual, especialmente o de esquerda, do qual fazia parte o dramaturgo Dias Gomes, não ficou indiferente a essa mudança e, através da arte, representou esse momento da história do Brasil e, mais do que isto, procurou colaborar para uma transformação revolucionária da sociedade brasileira. As peças A Invasão (1962) e O Santo Inquérito (1966), de Dias Gomes, são exemplos dessa arte engajada. Em A Invasão, Dias Gomes demonstra, a partir da ocupação de um prédio inacabado por favelados que perderam seus barracos em decorrência de uma tempestade, quais seriam as possibilidades de união do povo brasileiro contra os seus opressores. Já em O Santo Inquérito, o dramaturgo denuncia, através da lenda de Branca Dias, que teria sido morta pela Inquisição, o atentado contra a liberdade de pensamento e expressão pelos militares e, assim, convoca a sociedade brasileira para uma tomada de atitude contrária em relação à ditadura. O endurecimento dos militares em 1968 com o Ato Institucional n. 5 (AI–5) e a expansão dos meios de comunicação de massa, que ofereciam empregos e bons salários para artistas e intelectuais de esquerda, fizeram com que uma arte assumida e explicitamente engajada, que unisse esforços para o desencadeamento de uma revolução no Brasil, fosse, aos poucos, desaparecendo.

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Publicado

2010-10-07

Como Citar

Silva, P. R. da. (2010). Povo, revolução e Brasil por Dias Gomes (1962-1966). Cadernos AEL, 8(14/15). Recuperado de https://ojs.ifch.unicamp.br/index.php/ael/article/view/2494

Edição

Seção

Artigos