n. 5 (2014): Arte e Sociedade Indígena

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Apresentação

Elaborar um novo número de uma revista traz grandes alegrias e novas possibilidades criativas. A cada número finalizado notamos uma maturidade própria ao curso do tempo que acaba por definir os contornos de um periódico científico. Chegando ao seu quinto número, a PROA: revista de antropologia e arte conseguiu se afirmar como um importante veículo de ideias e um agente central nos debates contemporâneos sobre a relação entre cultura, artes, política, patrimônio e memória. Contudo, ao lado dessa renovada vontade de criação, velhos problemas insistem em aparecer, somando-se a novos desafios.

Como toda publicação ligada a uma instituição pública, a PROA depende de um calendário geral e de uma série de trâmites burocráticos para ter garantido o seu financiamento. Particularmente neste ano de 2014, questões políticas de ordem maior exigiram um posicionamento claro de funcionários, alunos e professores da Unicamp a respeito dos problemas que as universidades paulistas vêm enfrentando, em busca da garantia de direitos e da manutenção de uma universidade pública e democrática. Nesse cenário, uma greve interrompeu muitas das atividades da Unicamp, influindo diretamente no calendário de lançamento da revista. Entendemos que essas movimentações, tendo impacto na periodicidade da publicação e nas expectativas de seus colaboradores, acabam por gerar descontentamentos diversos. Mas, ao mesmo tempo, nos solidarizamos com o movimento grevista deste ano, pois a luta por melhores condições de trabalho e por uma consolidação dos ideais democráticos dentro da universidade é a condição necessária para a continuidade de nossos esforços de pesquisa, debate e publicização.

Pedimos desculpas aos colaboradores e leitores pelo atraso no lançamento da quinta edição. E esperamos que, não obstante, o novo número, pela qualidade de seu textos e imagens, bem como pela sua diversidade temática, ajude a consolidar a trajetória da PROA como catalizadora e inspiradora de debates na interface entre as artes e as ciências sociais.

A PROA 5 tem como um de seus focos principais a discussão do patrimônio cultural, tanto no que concerne às políticas públicas de patrimonialização, como no que concerne à compreensão e à exposição das artes indígenas. Traz, em primeiro lugar, um dossiê organizado por José Maurício Arruti composto por quatro textos, fruto do seminário presencial Arte e sociedade indígena: diálogos sobre patrimônio e mercado realizado na Unicamp. Os textos do dossiê são assinados por José Maurício Arruti, Alessandra Traldi Simoni & Virginia Borges; Lúcia Hussak van Velthem; Marcos Alexandre dos Santos Albuquerque; e Ilana Seltzer Goldstein. As transformações e negociações em torno do conceito de patrimônio - e suas relações com o domínio da arte - estão também no cerne da argumentação de Nathalie Heinich, socióloga francesa cujo texto foi traduzido por Eduardo Dimitrov e Maíra Muhringer Volpe.

A seção “Artigos” contempla, desta vez, literatura, música e cinema. Heloísa Helena de Oliveira Santos analisa três romances do século XIX – A Moreninha, Senhora e Dom Casmurro – em busca de valores e atitudes associados à vida íntima naquele contexto. A partir de narrativas literárias sobre o “primeiro amor”, discute a tensão entre a sociedade patriarcal e a família extensa, de um lado, e os ideais do amor romântico e da autonomia afetiva, de outro. Os limites (tênues) entre autoria e curadoria dão a tônica do artigo de Pedro Menezes sobre a gravadora de world music Putumayo. O autor evidencia “como os passivos e desinteressados gestos de curadoria são também ativos e interessados atos de autoria: as culturas do mundo não estão sendo apenas dispostas e organizadas, mas também constituídas” nas coletâneas musicais e nas capas dos álbuns. Por fim, os desafios da criação cinematográfica colaborativa estão no cerne do texto de Fabiano Lucena de Araújo, que discute as concepções de cine-transe e antropologia partilhada em Jean Rouch. O artigo toma como ponto de partida uma das primeiras obras do cineasta-antropólogo, “La circoncision” (1949).

Temos ainda a resenha de Érica Magi sobre o documentário “Somos tão jovens”, que recria o cenário musical de Brasília nas décadas de 1970 e 1980; e a resenha de Rafael Cesar acerca de uma exposição realizada no MIS de Campinas, por alunos do curso de Midialogia da Unicamp, tendo o corpo como um dos eixos curatoriais. Na seção “Relatos e experiências”, Vanessa Lea oferece uma densa narrativa de sua viagem a Cuba, mesclando impressões pessoais com reflexões antropológicas. Seu relato textual dialoga com as fotos de Cuba feitas por Júlia Lea. A fotografia é a linguagem presente, também, na “Galeria”, em que Carlos Emanuel Sautchuk aproxima, por meio de um texto e de um belo ensaio fotográfico, as técnicas e práticas da pesca a seu trabalho de fotógrafo-antropólogo.

Para dar mais sabor à leitura, a arte da PROA 5, livremente inspirada nas máscaras Praiá dos Pankararu, com linguagem de quadrinhos, é assinada por Douglas Lambert.

Publicado: 2014-12-01