A nêga ativa: notas sobre a lógica da denegação em Lélia Gonzalez

A nêga ativa: notes on the logic of denegation (denegação) in Lélia Gonzalez

Resumo

Este texto tem por objetivo reconstruir o conceito de “racismo por denegação” tal como proposto por Lélia Gonzalez em "O conceito político-cultural de amefricanidade" (1988), a fim de investigar quais são os fundamentos lógicos e epistemológicos da sua reflexão a partir do pensamento de Freud e Lacan. Nesse sentido, observamos como as proposições de M. D. Magno e Betty Milan, ocasionadas pela vinda de Jacques Lacan à América Latina em 1980, propõem um estatuto diferenciado para o Brasil em relação aos países vizinhos, ensejando a categoria de "amefricanidade". Os autores, ao analisarem o nosso idioma e afirmarem que o Brasil é uma “América africana”, propõem o termo "Améfrica Ladina", no texto "Améfrica ladina: introdução a uma abertura" (Magno, 1980). Lélia, a partir da discussão entre Magno e Betty Milan, demonstra como o Brasil apresenta uma cultura e uma língua africanizada, que é denegada pelo discurso ideológico do branqueamento da população. É essa denegação que constitui “a sintomática da neurose cultural brasileira” como nomeada por Gonzalez. Portanto, pretendemos reconstruir o conceito de “racismo por denegação” tal como proposto por Gonzalez, investigando-o junto ao texto "A negação", de Sigmund Freud, publicado em 1925, e os textos de Jacques Lacan junto a Jean Hyppolite em seus "Escritos" (1966/1998). Desse modo, analisaremos como o conceito de (verneinung) é colhido por Lélia, a fim de demonstrar uma hipótese sobre como opera o racismo no Brasil e como ele aparece nos discursos ideológicos, sobretudo no mito da democracia racial. A partir da análise de Lélia sobre o racismo no Brasil, verificaremos como a autora articula o conceito de denegação na psicanálise.

Palavras-chave: Psicanálise; Lélia Gonzalez; Racismo; Denegação.