O corpo da ausência em Moisés e Arão de Schoenberg: Uma leitura freudiana
The body of absence in Moses and Aaron by Schoenberg: A Freudian reading
Abstract
O que está em jogo na interdição teológico-judaica da imagem? Talvez a melhor obra de arte para expressar a tensão entre a adesão imediata à imagem e a recusa inegociável de fazê-lo seja Moses und Aron, de Arnold Schoenberg. O embate entre os personagens bíblicos coloca intrincadas questões ao lugar reservado à dimensão simbólica da psicanálise freudiana. Na terceira parte do ensaio Moisés e o Monoteísmo, Freud resgata seu Totem e tabu, reafirmando a lógica da ausência do pai - um lugar vazio e negativo - como guia da lei que ordena a cultura. Lá, Freud divide a ordem patriarcal da matriarcal. A primeira seria, segundo ele, superior por sua disposição à abstração, sublimação e pensamento. Em contraste, o matriarcado estaria ligado ao corpo, instinto e sensorialidade. A lei anexada ao pai é um lugar de ausência, intensificada pelo Deus inominável e desprovido de imagem: YHVH. No entanto, com a evidência ostensiva dos limites da ordem simbólica patriarcal, talvez seja necessário repensar se o espaço reservado para a articulação simbólica deve ser desprovido de qualquer tipo de corporeidade. Sem recorrer a uma resposta rápida, que simplesmente apontaria para a defesa do polo oposto - uma defesa dos elementos do matriarcado, negada por Freud – este trabalho procurará rearticular o espaço reservado à dimensão simbólica da psicanálise freudiana no lugar de tensão dialética que se desdobra no conflito entre Moisés e Arão, tal como apresentado na ópera de Schoenberg. Uma análise do libreto de Shoenberg e da parte III do Moisés de Freud colocará a verdade - ou sua força simbólica - ainda como um espaço indeterminado, mas de modo algum privado de corpo, vozes e materialidade. Neste horizonte, é pertinente recuperar o texto O Seminário Não-Existente, de Jean Jacques Miller, em que ele trata da multiplicidade em lugar da lei paterna. Por meio de um pequeno deslocamento, veremos que nem esta solução parece ser a melhor.
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