A concepção moral de descartes na carta a Mesland
Abstract
Na Meditação Quarta, Descartes empreende o que se convencionou chamar de uma Teodiceia, visando a livrar Deus da responsabilidade pelo erro humano. De cunho epistemológico, o que está em jogo é a relação entre o entendimento e a vontade; uma vez que, para Descartes, a faculdade da vontade só deveria dar seu assentimento àquilo que for percebido com absoluta evidência pelo entendimento. Daí, basta um passo para ver na Carta a Mesland (1645) uma mudança na concepção cartesiana de livre-arbítrio, posto que nela o filósofo afirma ser possível impedirmo-nos de “admitir uma verdade evidente desde que pensemos que é um bem afirmar dessa maneira nosso livre arbítrio.” O leitor apressado poderia concluir que, nessa carta, Descartes coloca a vontade humana em pé de igualdade com a vontade divina, enquanto que, na Meditação Quarta, ele a limita através da coerção da evidência. Considerando ser esse um dos mais graves erros de leitura da filosofia cartesiana, gostaria com este artigo de mostrar que, em rigor, Descartes
jamais modificou sua concepção de liberdade.
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