É possível as Meditações procederem dedutivamente e, ao mesmo tempo, necessitarem da clareza e distinção como critério de verdade?
Abstract
O texto pretende discutir em que sentido as Meditações podem ser consideradasdedutivas ou não. Evidentemente, uma tomada de decisão quanto a isso depende do que se entendepor dedução e do que significa um argumento ser dedutivo. Contudo, independentemente dosentido que se dê a essa operação lógica, deve-se assumir que um procedimento dedutivo tem porcaracterística mínima conservar a verdade, de sorte que a conclusão é, necessariamente, verdadeiraem razão da verdade de outras proposições que a antecedem. Deduzir é extrair uma conclusãoverdadeira de outras proposições verdadeiras. Conhecemos, por outro lado, a crítica de Descartesfeita à lógica e à dedução lógica, bem como suas doutrinas da intuição (nas Regras) e da clareza edistinção (nas Meditações). Tudo parece indicar que seja difícil sustentar uma teoria da conservaçãoda verdade ao longo do processo meditativo e, ao mesmo tempo, ter a evidência como critério daverdade, caso em que haveria superposição de critérios, o da evidência e o da dedutibilidade. Averdade não se transmite, para Descartes, de uma proposição para outra, mas é obtida pelo modoclaro e distinto como é apreendida pelo meditador, seja ela expressa numa proposição ou numaligação entre proposições. Isso não parece poder ser caracterizado como dedutivo, ainda mais queDescartes, nas Meditações, se move por uma dinâmica de descoberta e não de prova. As Meditaçõesnão são uma obra escrita dedutivamente, se dedução significar encadeamento de verdades.Downloads
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