O que há de crítico na vulnerabilidade? Repensando interdependência, reconhecimento e poder
Resumo
Imagens de vulnerabilidade têm povoado o cenário filosófico de Hobbes a Hegel, de Levinas a Foucault, e designam frequentemente um senso de susceptibilidade corporal à injúria, ou de ser ameaçado e ferido – estando, portanto, predominantemente associadas a violência, finitude ou mortalidade. Mais recentemente, teóricas feministas como Judith Butler e Adriana Cavarero começaram a repensar a vulnerabilidade corporal enquanto categoria crítica ou ética baseada em nossa interdependência e intercorporalidade primárias. No entanto, muitos teóricos contemporâneos continuam a associar vulnerabilidade a violência e finitude em vez de oferecer uma abordagem teórica normativa que poderia sustentar a vulnerabilidade como categoria crítica. Neste artigo, exploro uma noção alternativa de vulnerabilidade em sua relação tanto com uma teoria do poder quanto com uma abordagem normativa que se apoia na teoria do reconhecimento. Meu propósito aqui é duplo: primeiro, examinar a complexidade da vulnerabilidade e como ela se relaciona com formas de reconhecimento; e, segundo, esboçar como a noção de vulnerabilidade pode funcionar como base para crítica de formas condenáveis de vulnerabilidade. Isso significa considerar a vulnerabilidade não apenas como uma questão ética ou ontológica, mas como uma questão política, deslocando para a esfera pública política os argumentos a respeito de seu abuso e de seu entrelaçamento com o poder e a violência.