O artista e o artesão no jornalismo musical de Mário de Andrade e Fernando Lopes-Graça

Autores

  • Guilhermina Lopes Instituto de Estudos Brasileiros - Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

Mário de Andrade, Fernando Lopes-Graça, crítica musical, formação artística, autonomia da arte

Resumo

Nas primeiras décadas do século XX, fez-se presente em diversos países a figura do intelectual preocupado com a relação entre a música de concerto e as tradições locais e que se desdobrava entre as funções de criador, pesquisador, crítico e pedagogo, papel em que podemos localizar os músicos e polígrafos Fernando Lopes-Graça (1906-1994) e Mário de Andrade (1893-1945). Tomando como fontes principais artigos publicados na imprensa periódica brasileira e portuguesa nos anos 1930 e 1940, apresento uma análise do posicionamento dos autores sobre a questão da missão e formação do artista enquanto conhecedor de seu ofício e consciente de seu papel social. Está presente em ambos a valorização da solidez da formação técnica, a crítica ao virtuosismo per se e à noção romântica de gênio, perspectivas que aproximam a arte da noção de artesanato, permitindo entendê-la como atividade concreta, cotidiana, prática, coletiva e contextual, distanciando-se criticamente de abordagens que valorizam as noções de obra, indivíduo, autonomia, atemporalidade e valor objetivo. Percebemos também na produção crítica dos autores a defesa da liberdade de criação face a programas estético-ideológicos. De maneira geral, podemos observar em Lopes-Graça uma compartimentação de linhas de trabalho, destacando, nas canções de protesto, uma certa grandiloquência mobilizadora, e, na música de concerto, o fragmento e o anticlímax, favorecendo, na escuta, a distância crítica. Mário de Andrade, por sua vez, deixa suas tensões internas mais expostas em seu discurso propositivo e autocrítico, tomando frequentemente partido de uma arte engajada e “interessada”.

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Publicado

2022-12-29

Edição

Seção

Artigos (Modernismos brasileiros)