Integração como desintegração

A dialética negativa de Adorno como lógica do colapso do sistema

Autores

  • Cláudio Roberto Duarte USP
  • Jeferson de Almeida UEL

Resumo

O ensaio procura apresentar os momentos constitutivos da dialética negativa de Adorno como uma “lógica da desintegração”. Mais que uma concepção filosófica, ela corresponde a um determinado diagnóstico de um tempo social ruinoso, um tempo de catástrofe permanente. Porque o que se desintegra em tal lógica não são apenas os conceitos reificados da filosofia tradicional, mas um mundo histórico-natural caduco, que se faz em pedaços, redeterminando as condições da experiência em todos os campos do saber e da práxis. Ao mesmo tempo que esta experiência se empobrece, liberta a negatividade do todo e suscita o questionamento da ordem social. Emergindo do fundo do processo de produção do capital, essa lógica de desintegrações encadeadas retoma as molas principais do pensamento dialético hegeliano e marxista, subordinando-o às novas circunstâncias de uma sociedade hiperesclarecida, que radicaliza a socialização através da mediação do trabalho abstrato, implicando em cisão, alienação e antagonismo social generalizados. Nessa medida, integra desintegrando formas de vida, ação e pensamento. Na segunda parte do texto, desenvolve-se sua relação com a dialética de Hegel e na terceira a pergunta por sua atualidade. Tal lógica torna-se assim a descrição crítica do colapso da civilização contemporânea.

Palavras-chave: Dialética negativa, lógica da desintegração, Hegel, Marx, Adorno.

Biografia do Autor

Cláudio Roberto Duarte, USP

Doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada e Doutor em Geografia, ambos pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do Ensino Básico no Instituto Sidarta.

Jeferson de Almeida, UEL

Graduando em Ciências sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).

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Publicado

2020-02-05

Edição

Seção

Artigos (Dossiê Temático)