Integração como desintegração
A dialética negativa de Adorno como lógica do colapso do sistema
Resumo
O ensaio procura apresentar os momentos constitutivos da dialética negativa de Adorno como uma “lógica da desintegração”. Mais que uma concepção filosófica, ela corresponde a um determinado diagnóstico de um tempo social ruinoso, um tempo de catástrofe permanente. Porque o que se desintegra em tal lógica não são apenas os conceitos reificados da filosofia tradicional, mas um mundo histórico-natural caduco, que se faz em pedaços, redeterminando as condições da experiência em todos os campos do saber e da práxis. Ao mesmo tempo que esta experiência se empobrece, liberta a negatividade do todo e suscita o questionamento da ordem social. Emergindo do fundo do processo de produção do capital, essa lógica de desintegrações encadeadas retoma as molas principais do pensamento dialético hegeliano e marxista, subordinando-o às novas circunstâncias de uma sociedade hiperesclarecida, que radicaliza a socialização através da mediação do trabalho abstrato, implicando em cisão, alienação e antagonismo social generalizados. Nessa medida, integra desintegrando formas de vida, ação e pensamento. Na segunda parte do texto, desenvolve-se sua relação com a dialética de Hegel e na terceira a pergunta por sua atualidade. Tal lógica torna-se assim a descrição crítica do colapso da civilização contemporânea.
Palavras-chave: Dialética negativa, lógica da desintegração, Hegel, Marx, Adorno.
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