A importância da África para as Ciências Humanas
DOI:
https://doi.org/10.53000/hs.v14i19.314Palavras-chave:
História da África, Ciências humanas, Epistemologia, Estudos afro-brasileirosResumo
Desde aproximadamente os anos 1960, desmoronou-se boa parte do mundo que as ciências humanas haviam construído. Mais precisamente, houve um profundo “descentramento” (decentering) desse mundo na academia – isto é, uma mudança dos paradigmas que guiam a pesquisa. Quero refletir sobre essa mudança, enfocando particularmente os estudos africanistas. Pretendo abordar meu tema com ênfase na disciplina de história e a partir de três perspectivas. Primeiro, delineio o perfil geral da mudança de paradigmas para propor uma atualização urgente na estrutura curricular das ciências sociais brasileiras. Segundo, discuto trajetórias intelectuais e mudanças institucionais dentro da academia do “centro” como exemplo cabal do descentramento – ou subversão – causado pela “vivência com a periferia”: isto é, pela intensa experiência de pesquisa de campo de estudiosos do Atlântico-norte fora de sua região, e a progressiva incorporação de intelectuais dos países do “Sul” como seus interlocutores. Terceiro, enfoco os estudos afro-brasileiros para sugerir a necessidade de um deslocamento semelhante, operado a partir das “margens” da sociedade brasileira.
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